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Tár, crítica de Pedro Dourado

Confira a crítica de Tár, novo filme dirigido e escrito pelo diretor Todd Fiel e lançado pela Universal Pictures.

Aos 59 anos de idade, o diretor Todd Field volta a apresentar um longa-metragem aos cinemas, em sua terceira produção. E assim como em seus trabalhos anteriores, Entre Quatro Paredes (2001), e Pecados Íntimos (2006), o realizador desenvolve em Tár uma história sobre grandes dilemas. Mas desta vez, além de serem densos e desconfortáveis, estes dilemas se encontram acompanhados por um elemento diferente: uma atriz que eleva a narrativa a um patamar diferente, oferecendo uma experiência difícil, porém muito recompensadora.

O filme nos apresenta a Lydia Tár (Cate Blanchett), uma premiada regente que comanda a Orquestra Filarmônica de Berlim. Apesar de seu enorme sucesso e reconhecimento, Tár enfrenta problemas e escândalos morais, que permeiam a opinião pública sobre sua figura. Na preparação para gravar com sua orquestra, a desafiadora Quinta Sinfonia de Mahler, Tár se vê diante de um perigoso dilema, que envolve uma antiga pupila, que a assombra por sentimentos mal resolvidos no passado. No longa, o diretor e roteirista não apresenta uma narrativa convencional, onde o conflito nos é mostrado e assim influencia o desenrolar da história. Em Tár, Todd Field nos coloca junto à protagonista, que é o foco da trama, por três semanas em sua vida, e a acompanhamos em momentos que prometem mudar sua realidade.

O diretor revela, na primeira cena do filme, à persona que irá nos guiar. Por meio de uma longa entrevista que exalta suas inúmeras conquistas e enorme reconhecimento, Tár nos é mostrada como um gênio na área da música, sendo uma das poucas artistas a vencer o EGOT (os prêmios Emmy, Grammy, Oscar e Tony Awards, respectivamente). A cena causa a sensação de estarmos diante de uma figura grandiosa e distante, características que irão nos acompanhar ao longo da narrativa, sendo muito bem pensada pelo roteiro que traz grandes revelações a partir do segundo ato do filme. 

O longa desafia o espectador constantemente, dando a visão da personagem de Cate Blanchett e trazendo uma instantânea simpatia por sua intrigante personalidade e dificuldades. Porém, aos poucos, com o cuidado do roteiro de nos revelar os segredos de Tár com calma e sutileza, vemos que a única direção da carreira e vida desse grande fenômeno, que já alcançou o topo, é para baixo. O filme então surpreende ao trabalhar, no desvendar dessa complexa pessoa, a respeito de um tema atual, muito presente nas mídias sociais: o cancelamento de figuras famosas e o que isso impõe para todos os envolvidos.

O protagonismo deixado nas mãos de uma figura feminina no filme se torna então um elemento muito importante e bem pensado pela escrita. Com a protagonista tendo uma posição de destaque comumente ocupada por homens, o longa traz ao espectador uma posição inesperada e desconstruída, onde a repercussão do desmoronamento moral da personagem acaba impactando verdadeiramente, gerando uma genuína surpresa. 

Entretanto, esse desenrolar da narrativa não seria tão eficiente sem sua grande estrela em cena. Cate Blanchett é por si só uma integrante fundamental da produção. Com um papel que foi escrito e pensado especialmente para a intérprete, a atriz abraça a personalidade de Lydia Tár e nos leva por um caminho inesperado e brilhante. Sem Blanchett, o diretor Todd Field construiria um filme incompleto. Uma bela produção, é verdade, afinal conta com roteiro tão afinado quanto os instrumentos da Orquestra de Berlim. Porém, a cada minuto de exibição do longa, fica claro que é a atriz principal que conduz Tár ao brilhantismo, àquele acorde final que arranca um suspiro de admiração, tamanha a imersão que é oferecida. A entrega de Cate Blanchett no filme é tão genuína e hipnotizante que até nos faz esquecer que Lydia Tár é uma personagem fictícia e o filme não se trata de uma biografia, tamanha a verdade com que retrata a regente.

Por sua narrativa quase excessivamente extensa e detalhada, o longa talvez não seja aquele tipo de produção que prenda o interesse de todo o público. Porém, Todd Field trás em Tár uma história que ultrapassa muito a barreira da superficialidade e que recompensa seu espectador, que acompanha uma personalidade complexa interpretada pelo colosso Cate Blanchett, e uma narrativa que vai, aos poucos, nos apresentando quem Lydia Tár, um gênio do maior calibre em seu ramo de atuação, verdadeiramente é. 

Por: Pedro Dourado

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