IA na Música: reinvenção criativa ou a perda da essência?

Confira o artigo "IA na Música: reinvenção criativa ou a perda da essência?", escrito por Caroline Steinhorst, sócia e diretora da b+ca.
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Se a gente parar e pensar, a música sempre dançou no ritmo da inovação tecnológica. Acompanhamos o declínio dos MP3 players, o crescimento das plataformas de streaming, as canções deixarem de ser “as mais tocadas da rádio” para dominarem os charts digitais, e até mesmo os fios dos fones de ouvido se libertarem na era do Bluetooth.

Com cada avanço, veio a mudança na maneira como artistas criam, distribuem e conectam sua arte com o público. Se a era digital virou o nosso mundo de cabeça para baixo, a chegada da Inteligência Artificial (IA) adiciona uma camada ainda mais intrigante a essa dinâmica. E essa nova realidade nos convida a questionar os limites da criatividade, a essência da arte e o futuro da própria música.

A capacidade de gerar áudio e vozes é um dos seus efeitos mais visíveis – e, também, um dos mais controversos. Quem é que nunca deu de cara com aqueles covers bizarros ou até curiosos de artistas e criadores que viralizam no TikTok? O que parece uma brincadeira inofensiva na internet, na real, acende um alerta sobre os direitos autorais e a ética dessa nova fronteira tecnológica.

A recente carta aberta da Artists Rights Alliance (ARA), endossada por nomes de peso da indústria, é um pedido por proteção contra o uso indevido da voz e da imagem de artistas, enfatizando a necessidade de consentimento, compensação, transparência e crédito adequados para os autores das obras que são utilizadas no treinamento de modelos de IA.

Essa preocupação é aprofundada no estudo sobre o impacto econômico da IA Generativa nas indústrias da Música e Audiovisual, feito pela PMP Strategy, a pedido da Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (CISAC), e publicado em novembro de 2024. O relatório estima que a perda de receita dos criadores musicais devido à IA, até 2028, pode representar nada menos que 24% de suas receitas no período. Embora um pouco menor, para os criadores de audiovisual, a projeção também é impactante: o equivalente a 21% da receita total desses profissionais no mesmo período.

Os números já deixam claro que a IA Generativa está começando a redefinir a dinâmica da distribuição de receitas. Segundo o mesmo levantamento, em 2028, a música gerada por IA pode representar aproximadamente 20% das receitas de plataformas tradicionais de streaming e cerca de 60% das receitas de bibliotecas musicais.

Mas nem tudo é sinal vermelho. Nesse mesmo cenário, iniciativas como a da artista Grimes com a plataforma Elf.Tech surgem como um caminho. Ao liberar o uso de sua voz digital, mediante um sistema de divisão justa de royalties, a cantora propõe uma forma de usar a IA para cocriar, e não simplesmente copiar. Abrindo um diálogo sobre modelos de remuneração e colaboração que podem ser viáveis nessa nova era.

Assim como as novas tecnologias no passado abriram caminhos inesperados, a IA também se apresenta como uma ferramenta com potencial.  Hoje, qualquer um pode se aventurar na composição, mesmo sem saber nada de teoria musical, graças a softwares que facilitam muito. Além das plataformas de masterização, que automatizam processos técnicos, e barateiam a produção musical, sendo um alento para artistas independentes, que muitas vezes enfrentam obstáculos significativos para investir na carreira.

Como fica então a questão da originalidade? Será que a IA não levará a uma homogeneização sonora, onde a voz única de cada artista se perde no meio de algoritmos e fórmulas prontas? Será que a alma da música não está exatamente na emoção que dá um nó na garganta, naquele erro que a gravação em algo mágico ou no improviso carregado de sentimento?

Pensando no campo do marketing digital, a IA surge como uma ferramenta, que vai muito além de só automatizar tarefas repetitivas. Ela pode destravar ideias, acelerar processos criativos e impulsionar a produção de conteúdo relevante. O ChatGPT e o Gemini são recursos que podem ajudar em brainstorms, conceber ideias de roteiro para vídeos, formular perguntas que engajem os fãs, fazer pesquisas de mercado e outras otimizações que tornam o dia a dia mais ágil.

Contudo, a IA é apenas um ponto de partida, porque o conteúdo só tem  verdade quando ele passa pelo filtro do artista, carregando sua voz, seu estilo único e suas experiências de vida. Ela até pode fornecer a base, mas a alma da mensagem está intrinsecamente ligada à visão do criador. A IA não substitui a criatividade, ela amplia. E a originalidade? Essa continua a emanar do olhar singular de quem cria.

Por Caroline Steinhorst, sócia e diretora da b+ca

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