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Desintoxicação social: a mudança da perspectiva de consumidor para cidadão

Fabio Caim - social

Muito tem se dito sobre a eficiência do distanciamento social como forma de prevenção a disseminação do COVID19, aliás hoje mesmo um médico que conheço, especializado em infectologia e atuante em um hospital referência da capital de São Paulo, confirmou que o afastamento tem se mostrado sim uma estratégia excelente para conter o avanço do vírus.

Se por um lado estamos avançando na prevenção à disseminação desse vírus tão irrequieto e, por vezes, fatal; talvez, por outro tenhamos aberto uma porta para um lugar pouco procurado em nossa sociedade, que é o nosso interior.

Ficar isolado é sim um ato de coragem, uma demonstração de vontade férrea de ficar bem, estar bem e deixar os outros bem. Há nesse processo uma mudança comportamental imensa, que precisa ser acompanhada de uma mudança emocional, pois uma deve sustentar a outra. Arriscando a fazer futurologia, imagino que viveremos anos diferenciados a partir do processo de isolamento social, dessa experiência de imersão em si mesmo e da preocupação com o próximo.

Essa mudança impactará na maneira como consumimos, na relação que estabelecemos com as marcas, no desejo de ter objetos materiais. É como se estivéssemos fazendo uma desintoxicação forçada do vício no consumo, que é muito impactado, porque é o consumo que sustenta a dinâmica da nossa sociedade.

É como se sociedade se vendo doente tivesse encontrado uma forma de auto-organização para sanar essa grande enfermidade, através do isolamento social.

Estamos, literalmente, confinados ao nosso lar e mais ainda, a nós mesmos. Presos ao que somos, com a grande esperança que possamos sair mais fortalecidos de toda essa situação.

Bom, e agora o que fazemos com essa desintoxicação?

Como publicitários, de que forma transformaremos essa mudança comportamental e emocional em insights poderosos para se relacionar melhor com os cidadãos?

Percebam que não usei no parágrafo acima a expressão consumo ou consumidor, porque acredito que elas irão mudar ou talvez se tornem obsoletas, diante das novas dinâmicas que deverão surgir em nossa sociedade.

Vemos algumas marcas fazendo o trabalho de casa e olhando seus “consumidores” como cidadãos, oferecendo alimento aos profissionais de saúdes, readequando suas fábricas para produzirem álcool gel, máscaras, camisas brancas, liberando conteúdos restritos para que as pessoas possam se entreter, ofertando cursos gratuitos de maneira online e, também, se preocupando com o próximo, por exemplo, com o surgimento de grupos de psicólogos que oferecem atendimentos gratuitos para lidar com o isolamento e com o medo.

Outra iniciativa que vi foi no facebook foi uma publicação de uma usuária que pedia aos profissionais autônomos para que deixassem um comentário falando sobre que tipo de serviço vendiam, simplesmente para que a conta pessoal dela servisse como plataforma de divulgação para aqueles que estão precisando.

Talvez, essa desintoxicação seja mesmo necessária. Sabemos, por meio de dados científicos, que o planeta Terra chegou em um ponto crítico. A expressão emergência climática ganhou diversos adeptos, que deixaram de usar “mudança climática”, pois esta já aconteceu. De certa maneira, fomos colocados de castigo por esse imenso planeta e, agora, precisamos aprender com nossos erros e nada melhor para isso do que isso refletir. O castigo está surtindo efeito – a poluição tem diminuído, Veneza está com seus canais límpidos, animais têm surgido onde antes não se apresentavam mais, entre várias outras retomadas da natureza para nos mostrar que ainda há muita lição de casa a ser feita e muita transformação a ocorrer.

E nessa dinâmica social tão intensa, dolorosa e conflitante há espaço para marcas que consigam compreender realmente o que está acontecendo. Há espaço para marcas que consigam alinhar suas atitudes com um propósito claro, assertivo e responsável. Com certeza, essas marcas saberão entregar algo relevante a esse cidadão que está cansado de se ver segmentado, recortado, analisado e estereotipado.

Então, que venham as mudanças.

Por:  Dr. Fábio Caim – publicitário, psicanalista, professor universitário (Cásper Líbero e Facamp) e sócio-consultor na Objeto Dinâmico – inteligência de marcas.

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