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Os Fabelmans, crítica de Pedro Dourado

Confira a crítica de Os Fabelmans, auto-biografia dirigida por Steven Spielberg e lançada neste mês pela Universal Pictures.

A sétima arte passou por inúmeras transformações ao longo de seus mais de 120 anos de existência. Um dos maiores responsáveis por tais transformações é Steven Spielberg, o gênio que trouxe ao mundo produções incríveis como E.T. O Extraterrestre (1982), Tubarão (1975), Jurassic Park (1993) e A Lista de Schindler (1993) (que por sinal foi o trabalho de TCC do diretor, que além de receber o diploma naquele ano, arrecadou simplesmente 7 estatuetas no Oscar pela obra), filmes que não só moldaram gerações e impactam pessoas até hoje, mas transformaram essa expressão de arte como conhecemos. Assim, os fãs do diretor e do cinema recebem um presente com Os Fabelmans, uma semi-autobiografia de um dos autores que mais tratou e ainda trata a sétima arte com carinho.

No longa, acompanhamos Sammy Fabelman, interpretado por Gabriel LaBelle, que mora no Arizona com seus pais, vividos por Michelle Williams e Paul Dano, suas irmãs, e Bennie, um amigo íntimo da família interpretado por Seth Rogen. Encantado por sua primeira experiência no cinema, o jovem garoto ganha de presente de Hanukkah uma câmera e um trem de brinquedo e tenta criar sua própria versão de uma cena do longa. Acompanhamos, ao longo dos anos retratados, o crescimento e o aprofundamento de sua paixão pela criação de filmes, e como isso vai moldando o jovem diretor. Em paralelo, a estranha relação dos pais começa a afetar duramente o dia a dia de sua família, que também acaba sendo desgastada com muitas mudanças por conta do emprego do pai. Sammy então se vê em meio a duras questões, como a perseguição física e psicológica na escola e confrontos com sua mãe e, então, parte para uma jornada de superações e entendimentos profissionais e pessoais, se descobrindo cada vez mais através de traumas e relações.

O longa de Steven Spielberg encanta não apenas pelas atuações de cada um dos personagens que compõem a família Fabelman, mas como Sammy é mudado por suas ações. O relacionamento com os pais, interpretados com muita graça por Michelle Williams e Paul Dano, mostra que o garoto leva o melhor e, também, o pior de dois mundos distintos, o que causa dúvidas e conflitos desgastantes ao garoto. O longa é também uma carta de amor do gênio ao seu meio de fazer arte. Em tela encarnado com uma espantosa sensibilidade por Gabriel LaBelle, o diretor nos mostra as fases iniciais de seu relacionamento bem-sucedido com a sétima arte, e ainda de quebra vemos a importância do cinema em sua formação.

Outro assunto abordado no longa é a importância do egoísmo para um artista realizar seus feitos dentro da arte. Através de uma participação muito especial e digna de aplausos de Judd Hirsch, que dá vida ao excêntrico tio Boris, o jovem Sammy aprende a necessidade de deixar de lado suas relações para a história fluir aos olhos da câmera, dando luz e grandiosidade aos protagonistas, mesmo que estes não mereçam tamanho holofote. E assim, através de duras lições da vida, aulas inesperadas de personagens que entram e desfilam em cena, o jovem Sammy Fabelman, ou Steven Spielberg como conhecido do outro lado das câmeras, vai aprendendo a lidar com narrativas e personagens, conflitos e decisões, mágoas e superações, para se tornar um grande personagem na história dessa arte que tanto admiramos.

Com Os Fabelmans, Steven Spielberg constrói uma homenagem a Leah Adler e Arnold Spielberg, seus pais, através de suas lembranças mais queridas, e volta a falar de um tema que há tempos não retratava: a formação e importância familiar. E assim como nossas memórias antigas, a imprecisão para certos detalhes dão uma parcialidade ímpar à obra, e o diretor nos leva a encarar os traumas que o definiram, como a separação de seus pais e o bullying na escola, sob seu olhar sonhador e otimista, que sempre acompanhou sua carreira e criou tantos personagens marcantes. O filme ainda marca uma data importantíssima para uma das maiores parcerias da história do cinema: 50 anos do casamento perfeito entre o diretor e o compositor John Williams, responsável por dar ainda mais personalidade a grandes filmes de Hollywood, como os icônicos Tubarão (1975) e Star Wars (1977).

A obra, que trata sobre o grande poder das imagens, conta com um desfecho emocional e inspirador para os fãs do cinema estadunidense, e é um deleite para aqueles que admiram este grande mestre, que nos ensina, em cada uma de suas obras, que cada filme que assistimos na sala de cinema vai muito além de “uma projeção onde uma luz brilhante projeta 24 fotos a cada segundo, permanecendo em nosso cérebro por cerca de 1/15 de segundo, nos causando a sensação de que estão se movendo“, como diria Burt Fabelman.

Por: Pedro Dourado

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