Elon Musk chocou o mundo do marketing e da publicidade quando em novembro do ano passado, pressionado por anunciantes que desejam maiores controles sobre notícias falsas e conteúdos controversos, disse que os anunciantes que quisessem boicotar o X podiam ir se f… (“Go fuck yourselves”). E foi exatamente recordando este episódio que o CEO do grupo WPP, Mark Read, abriu a entrevista com o magnata sul-africano, fundador da Tesla e dono da plataforma X, no palco principal do Cannes Lions, no Palais des Festivals.
“Então, em novembro passado, você passou uma mensagem aos anunciantes podia ir se f***. É uma pergunta séria. Por que você disse isso e o que quis dizer?”, perguntou o executivo sem rodeios. Musk, que certamente sabia que essa era a pergunta mais aguardada desde que confirmou sua vinda ao Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions olhou para a plateia, pensou e foi bastante franco em sua resposta. “A minha fala não foi dirigida a todo o mercado publicitário, mas aqueles que tentaram censurar a liberdade de expressão na plataforma nos ameaçando com boicote comercial. Não vamos ceder e aceitar dinheiro algum se a contrapartida for censura. Nós vamos sempre defender a plena liberdade de expressão, desde que dentro dos limites do que estipula a lei em cada mercado em que atuamos”, disse Musk, sem se desculpar pelas palavras usadas. O magnata, que não abriu para perguntas de jornalistas, também não esclareceu sobre mecanismos de controle de notícias falsas e qual a correlação delas com o que entende sobre liberdade de expressão.
Sobre seu uso pessoal da plataforma, Musk afirma que pretende se manter o mais autêntico possível por entender que esse é o grande atrativo na plataforma. “Toda vez que faço alguma postagem, procuro ser mais genuíno possível, mesmo que algum dia cometa um deslize ou fale bobagem. Posso até me arrepender, mas serei sempre real, sem filtro ou seguindo diretrizes de relações públicas”, disse. Contrariando a lógica de segmentação, Musk disse acreditar que a plataforma seja hoje a ideal para se alcançar grandes lideranças corporativas, citando ele próprio como exemplo. “As pessoas mais carismáticas e relevantes do mundo compartilham conteúdos e suas visões no X. Nosso alcance vai desde as lideranças mais seniores de empresas quanto o grande público”, afirmou.
Musk garantiu que a plataforma tem em suas diretrizes uma política para monitorar e oferecer um ambiente seguro para os anunciantes: “Brand safety é algo que sempre vamos cuidar para manter nosso negócio saudável e entregar grandes resultados”. Ele esclarece que essa política comercial permite que marcas sejam expostas próximas a conteúdos com as quais tenham mais afinidades; “O que não é legal é que marcas insistam em tentar bloquear conteúdos que as desagradar”.
O tema Inteligência Artificial foi o tópico em que Mark Read e Elon Musk mais passaram tempo debatendo. Musk é um entusiasta da ferramenta e prevê impactos em toda a sociedade para o curto e médio prazo. “Já poderemos observar mudanças radicais no próximo ano e ainda mais profundas em cinco anos”, disse Musk.
Nesse futuro moldado pela inteligência artificial, Musk acredita que cada ser humano deverá ter um robô assistente para a realização de tarefas domésticas e pessoais, além de fazer companhia. “Imagino diversos robôs humanoides que, além de ajudarem nas tarefas do dia a dia, vão ser como amigos. Muita gente vai querer um robô só como companhia”, prevê.
A drástica redução na oferta de trabalho, segundo ele, vai criar uma crise existencialista na medida em que os robôs comecem a superar a habilidade humana para realizar tarefas. “Muita gente vai questionar o sentido da vida a partir do momento que sobrar pouco para fazer”, especulou.
Outra previsão sombria de Musk foi de um terrível incidente global relacionado a IA tem de 10 a 20% de chances de acontecer, ainda que não tenha especificado ao que se referia. “Mas temos o copo 80% cheio, vamos focar no lado bom”. Este lado bom, segundo Musk, seria de um mundo com abundância de recursos e serviços para todos os seres humanos, onde o trabalho seria opcional. No curto prazo, ele entende que as ferramentas disponibilizadas por IA vão auxiliar a capacidade humana de criar e pôr ideias em prática.
O Marcas pelo Mundo no Cannes Lions tem o patrocínio de Artplan, B&Partners.co, Lew’Lara\TBWA, Vox Haus e World Creativity Festival.
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*Imagens: Elisangela Peres