A nova alfaiataria como estratégia de diferenciação no varejo de moda masculina

Confira "A nova alfaiataria como estratégia de diferenciação no varejo de moda masculina", escrito por Mariana Nassralla.
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No varejo de moda, especialmente no segmento masculino, vivemos um momento de transformação profunda. Em um mercado cada vez mais competitivo e homogêneo, a diferenciação deixou de ser apenas uma vantagem para se tornar essencial. Nesse cenário, a alfaiataria que por décadas foi associada à formalidade e rigidez, ressurge como um caminho estratégico para acompanhar as novas dinâmicas do consumo contemporâneo, tornando-se um território fértil de inovação e expressão individual.

Essa mudança é impulsionada por um novo perfil de consumidor: mais autêntico, versátil e protagonista das próprias escolhas de estilo.

Esse novo homem não consome moda apenas por estética ou funcionalidade, ele busca significado. Valoriza experiências personalizadas, deseja se reconhecer nas escolhas que faz e procura produtos que traduzam seu estilo de vida de forma prática e autêntica. Ao mesmo tempo, rejeita imposições formais e idealizações inatingíveis: prefere vestir-se de maneira real, fluida e confortável, sem renunciar à sofisticação.

O resultado é um movimento que redesenha os contornos da alfaiataria tradicional. Paletós e calças passam a ser vendidos separadamente, permitindo combinações mais livres e personalizadas. Modelagens amplas e inclusivas convivem com tecidos tecnológicos que oferecem elasticidade, respirabilidade e praticidade no cuidado, atributos que acompanham o ritmo acelerado de uma rotina multifacetada. É nesse encontro entre elegância, funcionalidade e liberdade que a nova alfaiataria se firma como uma resposta direta às expectativas do homem contemporâneo.

A entrada da Geração Z no mercado acelera essa transformação. Diferentemente das gerações anteriores, os Z não associam ternos à hierarquia ou formalidade, mas sim a repertório estético e identidade cultural. Para eles, vestir-se é uma forma de se comunicar, e a alfaiataria, quando desconstruída, pode ser tão expressiva quanto o streetwear.

É por isso que vemos essa geração combinando peças de alfaiataria com tênis, camisetas oversized e elementos esportivos, promovendo uma releitura visual carregada de atitude. Mais do que seguir dress codes, a Geração Z desafia seus limites. E para dialogar com esse público, a indústria precisa abandonar a ideia de roupa como produto e começar a enxergá-la como linguagem e veículo de expressão pessoal e coletiva.

O setor de moda masculina, especialmente no Brasil, já opera em um cenário que se assemelha a um verdadeiro “oceano vermelho”: a oferta é ampla, a diferenciação é limitada e a disputa pela atenção do consumidor é constante. Nesse contexto, prosperam as marcas que vão além do produto, aquelas que entregam posicionamento, narrativa e propósito.

Atualizada, a alfaiataria se revela uma ferramenta poderosa de diferenciação. Mais do que atender a uma função prática, ela assume um papel simbólico na construção de valor de marca. Um bom terno, hoje, não é apenas um uniforme corporativo: é uma escolha intencional, que traduz personalidade, visão de mundo e repertório estético. Também é um convite à experimentação, como se vê em palcos de vanguarda como a Pitti Uomo, na Itália, onde a alfaiataria se transforma em expressão de liberdade criativa e afirmação cultural.

A nova alfaiataria simboliza exatamente essa virada: uma abordagem que enxerga o estilo como extensão da identidade, o conforto como premissa inegociável e a tecnologia como aliada da elegância.

Estamos vivendo um momento em que existe uma linha que divide o fast fashion, que é sobre a velocidade da moda e as marcas que entregam valor com produtos duradouros. A alfaiataria entrega tradição, história e evolução. Ela acompanhou a moda e se reinventou, mas nunca perdeu sua essência. E para falar de alfaiataria é preciso entender o conceito que ela carrega e, qualidade é considerada sua principal característica. No entanto, essa qualidade passa por diversos fatores, como: escolha da matéria-prima, do corte impecável, do caimento diferenciado e da excelência dos acabamentos.

É incrível como, hoje, todas as marcas que entregam valor se conectam à alfaiataria ou a incorporam de alguma forma. Mas, como uma marca de surf, uma de streetstyle ou uma casual podem dizer que têm alfaiataria em seu portfólio? É como se pudéssemos elevar essa conversa para um outro patamar, um nível que dialoga com o conceito “vale quanto pesa”, sem que isso se torne algo intangível

É um resgate do que importa para quem quer investir em um produto durável, e não em algo descartável. São conceitos que se somam e se misturam, e o mais incrível é perceber, ao olhar um look, que ele carrega referências múltiplas. Mas o que traz valor a peça é como ela foi confeccionada, a qualidade do tecido e a forma como ela veste o corpo. Sabemos que esses elementos fazem total diferença.Uma calça chino deixa de ser apenas uma calça chino quando ganha um tecido de algodão egípcio com elastano, com cós invisível, com fita interna, e consegue ser estruturada, mas, ao mesmo tempo, flexível. Ela é um exemplo de evolução que já atravessou todos os estilos e que hoje podemos dizer que é uma peça-chave para o dia a dia. A alfaiataria pura também se reinventou, se modernizou, tornou-se muito mais leve, prática e incorporou novas referências. Em feiras como a Pitti Uomo, podemos ver diversos estilos explorando a alfaiataria, desde bermudas amplas com paletós de tecidos super 120, sets de calças com overshirts com bolsos utilitários, ou até costumes com tecidos ultra tecnológicos e funcionais.Enfim, cada um pode escolher seu estilo, em um mundo mais amplo, e mais livre, onde cada marca procura o seu diferencial, mas não renuncia ao conceito de qualidade. Acessórios entram nessa mesma onda e os sapatos voltam com tudo, repaginados, com solas de borracha, novas formas mais confortáveis, misturando referências e trazendo mais sofisticação para os looks.

Existem muitos códigos e estilos, mas essa nova evolução do mundo fashion é sempre sobre comportamento, e faz com que a alfaiataria seja a protagonista, em um capítulo onde qualidade é a palavra da moda.

Por Mariana Nassralla, diretora de estilo da Aramis Inc.

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