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Cannes Lions – Maria Gal entrevista Ian Black: “Eu quero mais negócios de pessoas pretas”

Cannes Lions - Maria Gal entrevista Ian Black: "Eu quero mais negócios de pessoas pretas"

Maria Gal, repórter especial do Marcas pelo Mundo no Cannes Lions, conversou com Ian Black, que está participando pela primeira vez como jurado da categoria de PR do festival e é o fundador da agência New Vegas. Ian compartilhou sua trajetória, discutiu os desafios do mercado publicitário e as transformações impulsionadas pela diversidade.

O Início da Jornada de Ian Black

Ian Black começou sua carreira na publicidade aos 28 anos, sem formação específica na área. Ele iniciou sua trajetória em uma agência de influenciadores, passando por uma agência de conteúdo criativo e, por último, na agência Wunderman Thompson, mais tradicional.

Essas experiências, que somaram pouco mais de dois anos, foram seguidas por um período em que Ian decidiu explorar outras áreas das redes sociais além da publicidade. Durante esse tempo, ele sentiu a necessidade de formar uma equipe, o que o levou a criar a New Vegas. “Inicialmente, foi uma decisão ousada ou até ingênua, acreditar que aquilo era uma agência”, ele comenta. Assim, a New Vegas nasceu e evoluiu, impulsionada tanto pelo descobrimento do novo, quanto pelo sonho de ter um negócio próprio.

Ian acredita que foi o primeiro CEO negro de uma agência digital no Brasil. Antes dele, houve Toninho Isidoro, pai de Marcelo Isidoro, que fundou uma agência de promoção nos anos 80 e 90. Isso, segundo Ian, ilustra a dificuldade de iniciar um negócio na publicidade para uma pessoa preta.

A Perspectiva de um Fundador Negro

O caminho de Ian foi repleto de aprendizado. Ele acredita que a principal diferença está na perspectiva. Ser uma pessoa preta e dono de uma agência muda a forma como se vê o mundo. Desde o início, a New Vegas sempre promoveu um ambiente de trabalho saudável. “Nunca exigimos que nossos funcionários trabalhassem à noite ou nos finais de semana, e sempre adotamos políticas de licença parental mais inclusivas do que a média do mercado”, disse Ian.

Para Ian, a perspectiva de justiça social e inclusão é essencial. A New Vegas nunca exigiu diplomas de seus funcionários, removendo barreiras muitas vezes desnecessárias. Isso, segundo ele, mostra que é possível ter um mercado mais saudável e benéfico para todos.

O Impacto do Caso George Floyd

Antes do assassinato de George Floyd, a New Vegas já trabalhava com grandes marcas, mas sem um foco explícito em diversidade. Após o caso, houve um aumento significativo na demanda por campanhas que abordassem questões de diversidade. Ian destacou que foi interessante notar como as marcas começaram a procurar sua agência especificamente para esse tipo de trabalho.

Ian entende que o papel da sua agência é orientar os clientes não apenas em como se comunicar, mas em como atuar de forma ética e responsável. Após a morte de George Floyd, por exemplo, a New Vegas enviou uma mensagem a todos os seus clientes, aconselhando-os a ouvir, refletir e entender antes de agir. Esse foi um momento de mudança radical no Brasil, trazendo mais empatia e pequenas, mas importantes, mudanças no mercado.

Desafios e Mudanças no Mercado

Ian percebe que, apesar do aumento inicial no interesse por diversidade, essa pauta vem diminuindo um pouco. Isso se deve, em parte, aos cortes de custos nas empresas, que afetam departamentos de diversidade. No entanto, ele acredita que isso revela a fragilidade com que esses departamentos foram estruturados.

Segundo Ian, estamos sendo convidados a reimaginar e reestruturar esses programas de uma forma mais sustentável. Ele acredita na importância de criar negócios que não dependam exclusivamente de estruturas tradicionais e que promovam a prosperidade para todos.

Diversidade como Vantagem Competitiva

Maria Gal perguntou ao Ian se ele considera a diversidade como uma vantagem competitiva. O empresa comentou sobre sua admiração por Neon Cunha, uma mulher preta trans, que defende a importância de falar sobre possibilidade em vez de diversidade. Ian concorda com essa visão, destacando que não se trata apenas de lucro, mas de prosperidade. Para ele, empresas devem buscar a prosperidade que engloba uma existência digna para todas as pessoas, permitindo que elas sonhem e alcancem seus objetivos.

A Experiência em Cannes Lions

Estar em Cannes Lions como jurado foi uma experiência enriquecedora para Ian, pois o festival está se abrindo para novas perspectivas. No júri de Ian, havia bastante diversidade: duas pessoas africanas, duas mulheres asiáticas, duas mulheres árabes e dois homens brancos.

Essa diversidade enriqueceu o debate e trouxe novas perspectivas sobre os cases. Ian está certo de que este ano, o julgamento dos trabalhos foi mais sofisticado, inclusivo e positivo.

Assista a entrevista:

 

O Marcas pelo Mundo no Cannes Lions tem o patrocínio de Artplan, B&Partners.co, Lew’Lara\TBWA, Vox Haus e World Creativity Festival.

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